Trilhas da MPB - Zélia Duncan

Fernanda Dias e Ciça Carboni

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O show aconteceu no dia 12 de dezembro de 1999 - é não faz muito tempo!- num pequeno espaço, em uma das salas do reformado Teatro de Comédia Brasileira, o TBC, no centro sujinho, "boca de lixo" da cidade de São Paulo, ela começava essa pequena turnê, que antecede a gravação do próximo CD, já em sua nova gravadora a Universal. Sozinha, mas bem acompanhada de seus violões e bandolim, ela chega a Campinas nos dias 23 e 24 de março para apresentações inéditas desse show na cidade, que a recebeu muito bem em ocasiões passadas. Trazendo suas composições que a consagraram, algumas releituras de seus ídolos e o instrumento principal de qualquer cantora, a voz, o show que vem à Campinas é pra fã nenhum botar defeito.

E o melhor de tudo, é que fãs ou não fãs, o show vale a pena e o preço de ingresso, porque privilegia o bom gosto, os bons compositores, a boa música e a intérprete que executará tal trabalho. Antes que me esqueça, ela é Zélia Duncan. Devo dizer que, provavelmente, não teremos aqui em Campinas, o que aqueles afortunados tiveram, naquele dia 12: a presença de peso de Cida Moreira e a sutil de Ná Ozzetti, que em alguns momentos dividiram o palco com Zélia. Quem sabe haverá surpresas?
Confira uma entrevista exclusiva, feita com a cantora, logo após a show do dia 12 de dezembro.

1- Como você vê hoje, o CD Acesso, depois de quase dois anos de seu lançamento?
O "Acesso", abriu muitas portas pra mim , literalmente. Fui a lugares que eu nunca tinha ido, sul, nordeste, fiz coisas que nunca tinha feito. E agora, eu tô fazendo esse show sozinha, que é uma modalidade que eu estreei e tô fazendo com banda também, tô excursionando de várias maneiras, justamente porque eu tô dando a última acelerada pra frear. Porque esse ano eu paro para gravar, já tô fazendo repertório, tô na fase de criar, por isso, até isso de eu estar no palco, dividindo com o público um pouco do processo solitário que é, você criar em novo disco

2- Como é a escolha de repertório para você?
Bom, se existisse uma formula....era fazer o que você gosta. Então eu canto exatamente o que gosto. Claro que considero algumas coisas. Um roteiro é 80% de um show. Você pode ir no show do ser cantor preferido, se o roteiro for ruim, você vai ficar meio entediado. Eu procuro acertar o roteiro, fazer um roteiro redondo, que dê vontade de assistir mais e não de ir embora antes que acabe e escolho pra cantar aquilo que me identifica naquele momento. Pode ser que daqui há um ano eu ouça meu repertório de hoje e morra de rir, " como que eu tive coragem de cantar isso"? Eu reajo imediatamente ao que estou vivendo.

3- A exemplo de hoje, o que agente pode ver...
Pô, vocês foram premiados... Quem você considera seus parceiros musicais, companheiros da mesma geração? Paulinho (Moska) é um grande amigo, um cara com quem me identifico . Ed ( Motta) é meu parceiro, agora esse garoto, o Fred (Martins), ele regula mais ou menos comigo também. Eu tô atrás mesmo de gente nova, nova não no sentido de jovem, fresca, um frescor que eu sempre tô procurando. Lenine é meu vizinho, agente vice batendo bola. Antes do disco dele sair (Na pressão), ele foi lá em casa com o CDR, eu ouvi com ele, o outro também (O dia em que faremos contato) e agente tá fazendo uma música juntos. Fiz uma música coma Rita Lee agora, por incrível que pareça, muito legal. Eu tô em plena fase de abrir o leque. O Cristian (Oyens) é um cara importante pra mim, mas que agora tá fazendo o trabalho solo dele e eu tô conhecendo outras pessoas, fazendo outras coisas, eu tô realmente em outro momento.

4- A sua relação com São Paulo é muito boa, tanto com a cidade que te recebe muito bem, como com os artistas paulista. Como é isso pra você?
Eu tenho muito mais relação assim, de chamar pra cantar junto, com gente de São Paulo. Engraçado isso. No Rio, Paulinho, Lenine cantam comigo, tem sempre uma galera por perto. Mas aqui eu me movimento com muita naturalidade pela música de São Paulo.

5- E a resposta também existe, você também é muito convidada para shows de outros artistas...
A resposta também acontece, mas eu adoro, tenho um enorme prazer em dividir. Acho que é porque eu sempre cantei sozinha. Então quando alguém canta comigo, eu fico super feliz. É meio idiota isso, mas eu acho que o espaço é pra todo mundo, acho que agente tem que dividir, sim. Parece meio romântico, bobo, mas é incontrolável! (risos).

6- Existi mesmo um projeto , que você gravaria um CD só com músicas do Itamar Assumpção?
Existe um projeto meu , não oficial, mas eu pretendo. Aliás eu abri o show com uma música dele ("Porque que eu não pensei nisso antes", do CD Petrobrás, lançado em 1998), esqueci de dizer, onde eu canto uma música, "Dor elegante" e infelizmente, ele não veio, mas o Itamar é um cara que sempre canta comigo, que era pra tá aqui hoje, acho que ele tá viajando, liguei e não conseguir achar. É isso, tô sempre de olho no que o Itamar tá fazendo.

7- Num show, como este em que você está sozinha no palco, você tem mais liberdade tanto para errar como para acertar. Como é estar sozinha no palco?
Na verdade, durante esses ano em que eu me tornei conhecida, eu canto há 18 anos, sou conhecida há uns 5, 6 anos, então o mais importante do tempo, é a experiência, se você ficasse mais velho e não ficasse experiente, não haveria vantagem nenhuma em você envelhecer e a única vantagem de ficar mais velho é ficar mais experiente, mais esperto. Se o tempo passar e você não ver, você perdeu. Então minha relação com o erro no palco, hoje em dia, foi desenvolvida. Eu tenho duas opções: se eu conseguir esconder o erro, ótimo! Melhor evitar. Se ele aconteceu e ninguém perceber, tudo bem. Agora se ele acontecer e eu não posso evitar que o público veja, eu assumo imediatamente, "tá, para tudo!", "não , não tá bom!", "pô , que droga, peraí, Henrique( Rodie)!!"  Não tem o menor problema. Eu já faço isso nos meus shows com banda. O copo caiu, molhou teu pé, tudo mundo viu! "Pô , aí gente, molhou meu pé!" Todo mundo viu. Porque isso que é legal, eu sou uma pessoa e não sou uma mágica, se eu tenho algum mérito, é esse, de ser um ser humano e ainda sim, conseguir fazer alguma coisa.

8- Fica um show mais econômico?
Fica. Cantei muitas músicas de repertório conhecido principalmente. Olha, os pedidos pra que eu faça show assim, rolam há muito tempo, eu nunca quis.

9- Por que?
Porque eu estava com a banda e quando você começa a fazer algo assim, as pessoas imediatamente querem , justamente por esse motivo, por ser econômico. Te garanto que eu estaria rica se tivesse feito só esse show. Mais econômico na apresentação das músicas...Aí, muda a concepção. O que eu quero mostrar para as pessoas não é "olha minha banda não veio, é olha, eu tô aqui, eu trouxe meu violão". Então não quero que você ouça "Verbos sujeitos" pensando naquela guitarra. Eu quero que você pense: "pô, conheço essa música, vou ouvir o que ela tem para dizer". Então , eu não estou tentando ser a banda, eu tô sendo eu, aliás como eu sempre tento fazer.

10- Como está a preparação para o próximo CD?
Tô começando agora, tá bem no começo, prefiro não adiantar nada, ainda é um sonho.

11- Você geralmente faz mais letra do que música, você sente mais necessidade de fazer mais música?
Agora eu tô começando a fazer música, com a Rita eu coloquei música, por incrível que pareça. Você sente necessidade...
Não é necessidade. Tô abrindo a cabeça, voltei para as aulas de violão, passo a dia inteiro tocando, tô com os dedos inchados. Não tem porque não tentar fazer alguma coisa. Então eu já fiz umas duas , três sozinhas, com letra e música. Essa com a Rita, que para mim é um marco na minha vida, mesmo que ninguém venha a saber disso, pra mim já foi....Mas até hoje eu boto mais letra nas músicas.

12- Você tem um público muito fiel e barulhento até, como você lida com isso?
Aqui , eu estava preocupada, não sabia como ia ser. Mas eu acho que... Isso é um pouco o que não tem explicação. Como é que eu vou explicar a minha relação com eles. É o invisível, né. Então tem uma bagunça, mas existe um respeito, meu com eles e deles comigo. Então, se é hora de ficar quieto, agente vai ter que ficar quieto, isso é um teatro, não é um lugar pra levantar... Eu adoro dançar, mas não é a hora. É hora de parar e ouvir, então eu escuto, é hora de escutar. Na hora de participar, a gente participa. Você vira meio maestro do negócio, então é hora de cantar, vamos cantar, é hora de focar quieto, vamos ficar quieto. Não porque eu seja chefe, mas porque eu tenho uma coisa pra dizer, então a outra metade é o ouvido. Uma metade é a boca, a outra é o ouvido. Na minha hora de ser a boca que vai falar, todo mundo ouve. Isso é uma coisa conquistada, não cheguei....foi gradativamente.

13- Não sei se você se sente a vontade para fazer isso, mas quem você apontaria como uma revelação, alguém novo, que está aparecendo no cenário?
Hum.....( pausa). Conheço muita gente nova legal. Sabe o que é, é que eu ouço música o dia inteiro, então pra uma coisa me impressionar mesmo...., eu fico mais chata que os outros. Adoraria ser despojada, sentar e ouvir, mas eu ouço, fico....pô, ali....Eu tenho prazer, mas eu tenho senso crítico também, então ouço muitas coisas. O Fred ( Martins), é um cara de Niterói, toca , canta, ele é bom. Tem uma banda no Rio se chama Bangalafumenga, maluquice, o garoto chama Rodrigo Maranhão, puta compositor. Fui num show deles, só garotada, cantei com eles um negócio, todo mundo dançando, meio rap/samba. Eu tô sempre atenta.

14- Você se ouve muito?
São fases. Assim que eu acabo de gravar, eu ouço muito, depois eu não agüento mais, aí paro. Aí sempre tem alguém que coloca. Me chamam pra jantar em algum lugar, vou, aí daqui a pouco alguém coloca por gentileza, aí eu não consigo mais conversar, porque eu começo a prestar a atenção naquilo, aí pensar, pensar pensar...Então eu me ouço porque é importante, mas dou um tempo se não, não agüento.

15- Tem algum compositor preferido, que gravaria a obra inteira?
Um monte, eu não saberia te dizer agora (pausa). Quando ouço qualquer coisa do Chico Buarque, eu tenho a sensação de que eu não quero fazer mais nada, nunca mais. É paixão! Eu tenho isso com a Joni Mitchell. Quando o Milton Nascimento relançou os discos dele remasterizados, os do começo, eu falei "Ah! Só quero fazer isso"! Eu fiquei louca! Quando eu ouço blues, ouço Ella Fitzgerald, que é meu instrumento favorito, entro em êxtase, "ah não, só vou cantar isso"! Mas aí , o tempo vai passa e eu vou achando minha cara de novo.

16- Qual foi o último CD que comprou?
Último CD....
Você compra muito CD?
Muito CD! Eu mando vir pela Internet, muita coisa antiga. Agora eu tô ouvindo uma cantora, chamada Lucinda Willians, que não é uma puta cantora, mas o todo é muito legal, country/blues, slides, som que me interessa de violão, as letras são muito boas. Comprei o último do Everything But the Girl..

17- Gostou o último CD deles.....
Gostei muito, eu adoro eles, o Amplifaid Hearten, eu adoro. Tô sempre ouvindo música negra, Curtys Mayfield, tô sempre comprando tudo dele. What else?? Um monte de coisa... Tá ruim a sua lista, em .......(risos)

18- E o último show que foi assistir?
Vou sempre que posso. Acho muito importante ver show.(Pausa) Do Chico ( Buarque) eu já vi. Do Paulinho ( Moska) eu perdi, foi esse fim de semana

19- Você foi ver o show da Alanis ( Morissette)?O primeiro você foi??
Putz!! Perdi Alanis !!O primeiro eu fui. Adoro, adoro!! Ah, não, o último que foi Maraine Faithfull, anteontem!!

20- Você foi ver??
Que!! E olha que eu não saio em véspera de show, sou super caxias. Falei com ela, fiquei super feliz, sou fã também.

21- Como é que você esquece um troço desse??
É, não!! Maluquice. O "Broken English", é um disco dela maravilhoso, que eu ouvia quando eu estava viajando em Abudabe. Depois fui para a França, comprei na FENAC de lá, não tinha muito dinheiro quase, eu tinha que escolher e eu escolhi esse disco. É um disco que me marcou muito. Quando ela entrou cantando....eu fiquei....Vocês foram ao show??
Não!
Perdeu!! Uma voz maravilhosa, inteira, mulher..... impressionante! Muito legal
Obrigada!!!
Falou!!