Tango do covil

(Chico Buarque)

Ai, quem me dera ser cantor, quem dera ser tenor
Quem sabe ter a voz igual aos rouxinóis
Igual ao trovador que canta os arrebóis
Pra te dizer gentil
Bem-vinda, deixa eu cantar tua beleza
Tu és a mais linda princesa aqui deste covil

Ai, quem me dera ser doutor, formado em Salvador
Ter um diploma, anel e voz de bacharel
Fazer em teu louvor discursos a granel
Pra te dizer gentil
Bem-vinda, tu és a dama mais formosa
E, ouso dizer, a mais gostosa aqui deste covil

Ai, quem me dera ser garçom, ter um sapato bom
Quem sabe até talvez  ser um garçom francês
Falar de champignon, falar de molho inglês
Pra te dizer gentil
Bem-vinda, és tão graciosa e tão miúda
Tu és a dama mais tesuda aqui deste covil

Ai, quem me dera ser Gardel, tenor e bacharel
Francês e rouxinol, doutor em champignon
Garçom em Salvador e locutor de futebol
Pra te dizer febril
Bem-vinda, tua beleza é quase um crime
Tu és a bunda mais sublime aqui deste covil