Solitário festival

(Apá Silvino e Gilvandro Filho)

No canto da sala, acendeu suas velas
Rezou por melhores noites e dias
Pediu proteção ao santo que podia
Tirou do baú suas aquarelas

Na sua inocência pensou: "sou artista!"
Deixou num cantinho o medo do mundo
Calou num momento e repirou fundo
Deixou pela sala dezenas de pistas

A noite chegou e ele nem viu
A lua brilhar em seu quintal
Nem bem, nem mal, apenas ele
Solitário festival...

Não repercutiu a sua prosa mansa
Não houve qualquer sinal da assistência
Não desanimou, teve paciência
Sentiu que era dele o canto e dança

Pediu a si mesmo um pouco de calma
Um gole de vinho, outro de coragem
Ao redor de si fechou a viagem
Apagou as velas, beijou sua alma

A noite chegou e ele nem viu
A lua brilhar em seu quintal
Nem bem, nem mal, apenas ele
Sólitário festival...

Já era manhã quando algo lhe disse
Que até o galo esqueceu de cantar
Jeito de regato e um pranto de mar
Pediu que a tristeza de leve saísse

Como num teatro, jurou que ouviu "bis"
Colheu duas rosas jogadas ao chão
Guardou o espetáculo em seu coração
E depois foi dormir muito mais feliz