CHEIRO DE ROSA

abri a porta varri a soleira
e parei no tempo
vi o calor afastar toda a sombra
da noite que passou
joguei no sol almofada colchão
travesseiro
lavei as janelas
com pano macio
pus água nas jarras
à espera das flores
ah esse cheiro de rosa no ar,
sempre o mesmo
lavei o rosto
me olhei pelo espelho
e pintei na boca
rubro carmim derramado
um sorriso espantado a me espiar
gota de sangue na ponta do dedo
que brilha e espalha
o vermelho num risco traçado
bordado apagado
nas marcas do tempo

ah, esse cheiro de rosa no ar, esse
cheiro de rosa no ar
sempre o mesmo
vendo morrer cada hora
arrastando quebrada
a asa no agora
no instante partido
o momento que espera
a chegada da aurora

ah, esse cheiro de rosa no ar
esse cheiro de rosa no ar
agora...

Luli e Lucina 25 anos - Dabliú, 1996.