Bigamia

(Alfredo Karam Filho e Alexandre Lemos)

Conheci a Iracema na saída de um cinema
Seu sorriso era um poema, o seu corpo um violão
Ela veio pro meu lado e eu perdi o rebolado
Fiquei logo apaixonado, prometi meu coração
Fui levar a moça em casa mas meu corpo tava em brasa
E a gente bateu asa prum motel da região
Nessa nossa noite ávida Iracema ficou grávida
E a sua mãe, impávida, exigiu reparação
A minha sogra pôs mãos à obra
Fez a manobra pra nos casar
Minha poupança foi na aliança
Minha esperança ficou no altar
Me tornei um bom esposo, dedicado e carinhoso
Sou um pai atencioso pra pequena Beatriz
Bebo pouco, só cerveja, sou freqüentador da igreja
Mas a sorte não deseja que eu consiga ser feliz
Nunca tive um bom emprego, sou capacho de pelego
Vivo no desassossego de pagar o aluguel
E a desgraça mais recente: minha sogra de repente
Foi morar junto com a gente, que destino mais cruel!
A minha sogra nunca se dobra
E se desdobra pra me irritar
É fofoqueira, só diz besteira
Dessa maneira vai me matar!
Diz que eu sou um pé-rapado, que eu devia ser capado
Que eu pareço um retardado, tenho cara de mongol
Ela é minha mazela, acha que a casa é dela
Fica lá vendo novela na hora do futebol
Iracema não reclama, diz que a mãe dela me ama
E que eu tô fazendo drama porque eu gosto de sofrer
E enquanto a vida segue minha sogra me persegue
Qualquer dia ela consegue, vai enfim me enlouquecer
A minha sogra é uma cobra
É uma droga que ninguém quer
É intriguenta, é rabugenta
Ninguém agüenta essa mulher
Dia desses, num rompante, arranjei uma amante
Sou cristão, sou praticante, mas também não sou herói
Ela se chama Jurema e detesta ir ao cinema
Foi Garota de Ipanema num concurso em Niterói
Foi criada em orfanato, acha casamento chato
Pede pra bater e eu bato, eu quero é me divertir
Ela ainda é uma menina mas é muito feminina
A Jurema é gente fina e adora me servir
A minha vida tá dividida
Indefinida, tá por um triz
Com a Iracema é só problema
Mas a Jurema me faz feliz